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m trabalho hercúleo:
assim podemos definir o papel de Allan Kardec ao codificar (organizar,
sistematizar) a Doutrina Espírita.
Quis o codificador
que a doutrina nascente recebesse um nome novo “para coisas novas, palavras
novas” disse ele, para que a Doutrina não fosse confundida com o espiritualismo
até então vigente, por isso criou o vocábulo espiritismo e seus adeptos seriam chamados
de espiritistas ou espiritas.
A preocupação de Kardec
não era vã, sabia ele que confissões poderiam acontecer, o que macularia o
escopo do Espiritismo.
Passado mais de 150
anos desde que veio à publico O Livro dos Espíritos, marco inicial das
publicações doutrinarias, vemos no mundo em geral e no Brasil em particular,
uma desfiguração daquilo que pretendia o Codificador.
Dezenas de conceitos
que nada têm de espiritas, estão sendo agregados, difundidos, publicados e
professados como se fosse a mais pura verdade e fazem parte da Doutrina dos
Espíritos.
Para chegar até o
grau de evolução física e moral em que se encontra, o homem passou por vários
estágios desde sua criação, ainda como
Principio Inteligente, até sua individuação como Espírito, como bem
diferencio Kardec ao grafar as palavras com o e minúsculo para principio
Inteligente (espirito não individualizado) e com o E
maiúsculo (Espirito com consciência adquirida, senhor de si e com livre arbítrio).
É fato também que no
percurso que percorreu o Espírito, passou por vários estágios de entendimento
da realidade que o cercava, tendo sempre intrinsecamente, a lei de adoração.
Para externar sua
necessidade de adorar, o homem primeiramente desenvolveu a litolatria,
atribuindo às pedras poderes metafísicos, e com isso erigiu monumentos totêmicos,
depois passou a fitolatria, atribuindo seu sucesso e felicidade á natureza em
geral. Mais adiante passou a zoolatria e animais passaram a ser considerados
sagrados. Mais tarde, a razão ainda incipiente criou a mitologia e seus deuses
diversos, momento em que o homem atribuiu à Divindades as razões para sua
felicidade e infortúnios.
Todo esse processo
levou milhares de anos e o Ser não deixou de buscar explicações para o que
sentia e tentava compreender o porquê de estar vivo.
Mais além, os
primeiros profetas começaram a disseminar a ideia de um Deus único, onipotente,
Onisciente e Onipresente, que a todos vigiava e a tudo controlava. O homem,
assim, sintetizou em uma única divindade milênios de incompreensão, de temor e devoção.
Nascia o Deus dos Hebreus, que à todos pune com severidade e alguns beneficia
com sua tolerância e paciência.
Este Deus, dúbio, que
condena e absolve à seu bel prazer ainda está presente nos dias de hoje em
nossa sociedade, nas diversas crenças e religiões com as quais convivemos.
Quando Kardec, após
imenso trabalho, tirou o véu que acobertava o limiar da morte, uma nova visão
sobre a existência se fez enxergar.
Não era mais o homem
um ser desprovido de propósito e tampouco um joguete na mão de deuses diversos
ou um fantoche nas mãos de um único Deus. Adquiriu consciência e
responsabilidade sobre seus atos e seus pensamentos.
Com esta nova visão
de SER e Existir, o homem passou a ser o centro das mudanças a que se propõe e
seu destino está indissociável de suas escolhas.
Infelizmente, muitos
companheiros de ideal espirita não compreendem a importância de estudar as
obras de Kardec e se deixam levar por modismos, imiscuindo à Doutrina Espirita,
conceitos alhures.
Cromoterapia, heike,
apometria, ritos diversos, adoração à médiuns e trabalhadores (encarnados ou
não), velas, incensos, luzes coloridas, cristais, crianças índigos, ufos e
tantas outras inserções tem sido feitas, seguidas, propagadas e divulgadas como
sendo importantes para o Espiritismo, têm sido responsáveis por uma completa
desfiguração do trabalho de Kardec, levando o homem à atribuir poder a coisas
que deveriam ter ficado no passado.
Uma situação
pavloviana se instala no meio espirita atual: o aprendizado de milhares de anos
que preparou nossa chegada a idade da razão, volta a nos conduzir á idade da ignorância
que há muito, havíamos superado.
Cabe a nós,
expositores, palestrantes, professores, médiuns, escritores, dirigentes e
trabalhadores de centros espíritas em geral zelarmos pelo legado de Kardec,
honrar seu trabalho e não permitir que tais práticas continuem à macular a
Doutrina Espírita.
É nossa
responsabilidade que leguemos às gerações futuras um Espiritismo puro, livre do
espirito de sistema e dos ritos, para que não façamos com a excelsa Doutrina
dos Espíritos, o que foi feito (talvez até por nós mesmos) com a mensagem de
Jesus.
A semeadura é livre,
porém, a colheita é obrigatória. E colheremos os frutos de nossa
irresponsabilidade quanto a preservação da Doutrina que veio para libertar consciências
e que, hoje, está se tornando em mais uma escravizadora da razão.
Alex Honse